domingo, julho 12, 2009

O Sindroma Literário


Li os posts iniciais do blog Império Terra, lançado pelo Paulo Fonseca para apoiar a publicação do seu livro de estreia Império Terra - O Princípio, na mesma altura em que li o livro. Como seria de esperar, o tom geral dos comentários colocados era de esperança e expectativa.

Passado cerca de um ano, e por causa de um post no Correio do Fantástico, voltei ao blog do autor. O tom dos posts que lá foram colocados mais recentemente é diametralmente oposto dos anteriores. Para começar, uma desilusão desmedida. Mas, se fosse só isso, não me deixaria espantado como fiquei. Todos sabemos como a primeira obra é um investir de tempo e esforço, e do que vai de amor-próprio nessa empreitada. E que a função de escritor é inerentemente solitária, raras vezes recebendo um retorno de quem mais ansiaria - dos leitores. No entanto, já me se torna mais dificil compreender que se aludam a lobbies e cliques como a moinhos de Dom Quixote, forças e conluios que promovem muitos que não o merecem e que relegam novos valores ao esquecimento, sem antes lhes proporcionarem sequer uma hipótese justa de se medirem ao lado dos tais autores vácuos (a síntese é da minha responsabilidade, mas, espremido, foi isto que interpretei de posts como este).

Não escamoteio que o "factor C" continua a ser importante. Mesmo não o tratando como um elemento perverso, obviamente o simples facto de haver algum tipo de conhecimento pessoal acaba indubitavelmente por permitir às relações profissionais um maior grau de proximidade e atenção. Mas a maior parte das pessoas envolvidas na edição são profissionais sérios. Que, no actual momento editorial português, até têm dado mostras de estarem ávidos por obras nacionais na área da fantasia e da ficção científica. Por isso se torna importante que um autor se saiba movimentar no meio em que escolheu escrever. Seja no meio editorial (e cada editora tem a sua vertente temática de receptividade) como no meio das comunidades de leitores (hoje, que a internet o permite).

Não serve de nada ao autor queixar-se do autismo de editores, livreiros e leitores, quando ele é o primeiro a estar surdo perante o mundo que lhe interessa "seduzir".

Talvez conhecer melhor o meio que pretende conquistar não fosse má ideia. Servia potencialmente para evitar dizer tamanhas enormidade como queixar-se de "Nesta guerra eu fui sabotado: os meus livros foram expostos por pouco tempo e em prateleiras viradas para o interior das livrarias.". Tomara à quase totalidade dos escritores portugueses do Fantástico terem os seus livros em destaque, de capa à vista nas prateleiras ao nível dos olhos (que, como se sabe, a seguir à montra e às ilhas, são os lugares mais favoráveis numa livraria!), durante várias semanas, em várias lojas da cadeia FNAC, como vi acontecer com este livro. Tenho visto nomes mais estabelecidos, como David Soares ou Filipe Faria, terem pouco mais do que isso!

Queixar-se de algo assim é falar de barriga cheia. É desconhecer como funciona o mercado. É querer entrar-se num negócio, mas não se querer pagar a taxa de admissão (ou alguém duvida que a boa promoção custa bom dinheiro?!). É não se ter consciência das próprias limitações. E, pior, é não se estar em posição de, objectivamente, se lidar com elas. Como advogariam aqui os Alcoólicos Anónimos, o primeiro passo para se ultrapassar um problema é reconhecer que o temos.
E estarão alguns a esta hora a querer perguntar-me: "Mas ao menos o livro é bom?". Porque afinal é de qualidade que se fala, não? Quanto à análise da obra, colo-me descaradamente à resenha feita pelo Nuno Fonseca, publicada no Orgia Literária (um site de referência, nem disso o autor se pode queixar!), e com a qual concordo plenamente, tanto nos pontos positivos como nos pontos negativos apontados à obra. Incluindo que a obra beneficiaria bastante da intervenção de um editor, o que infelizmente a Papiro Editora não parece ter feito. O que, na minha opinião, deixa o livro num estado em que dificilmente o veria publicado numa das editoras principais do nosso mercado (pelo menos não sem uma grande cunha, mas aí penso que o Paulo Fonseca estaria a dar este exemplo para advogar a eliminação da sua prática e não o seu alastramento).
Mas leiam a resenha, comprem e leiam o livro, tirem as vossas conclusões, e dêem-nas a conhecer ao autor. É um favor que lhe fazem.

3 Comments:

At 7/12/2009 11:30 da tarde, Blogger Luís R. said...

"Comprem e leiam?" Tratando-se de uma edição da Papiro, que é paga pelos seus autores para os publicar, pergunto quando é que me dão algum desse dinheiro mal merecido para só aí eu pegar nos livros . . .

 
At 7/13/2009 8:18 da manhã, Blogger Rogério Ribeiro said...

Olá, Luís.

O facto da Papiro ser ou deixar de ser uma vanity press não é relevante para o conteúdo do post. O que é um facto é que o livro foi publicado, pago ou não pelo autor, e, com a exposição que teve, a quase totalidade dos leitores/compradores não distinguirá a Papiro de qualquer outra editora. Portanto, se o livro está aí nas bancas, "há que lidar com ele"!

Quanto à questão da Papiro, e ao aparecimento de novos livros, a informação espalhada pela net é um testemunho suficientemente eloquente do que os autores podem esperar de pior. Como exemplo, é espreitar o http://correiodofantastico.wordpress.com/2009/03/11/duas-cartas-abertas-a-papiro-editora/
Com a cautela que qualquer um deve ter, não há como ficar alheio ao que se passa...

 
At 7/28/2009 11:47 da manhã, Blogger Luís R. said...

Pode não ser relevante para o conteúdo do post, mas é relevante para o meu investimento no livro. Recuso-me a contribuir para uma "editora" que já vive de explorar monetariamente os seus autores. Seja por uma questão de ética ou de pura picuinhice, sinto muito, mas não contem comigo para estas coisas.

 

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